Julgamento do Tobby emoções fortes, já publicado sensivelmente nos mesmos moldes em 2004.
Envolveu Procuradoria da República, magistratura, advocacia, polícia e muito, muito mais, como se não houvesse mais nada para fazer.
12 de Março de 1987, por volta das 7 da manhã, ainda em «robe de Chambre», levei meu cão à rua (Rue Decrès, Paris 14 ème), França, fazer chichi; mas não foi por isso que fui interpelado por um agente ...não o trazia pela trela.
Cerca de um ano mais tarde, fui intimado para comparecer no tribunal de polícia de Paris 14 ème, onde, para além de cães, eram julgados gatos, porcos da Índia, cobras, aves enfim tudo que perturbasse a «ordem pública».
Como nessa altura fazia parte da peça de teatro Saltimbanco (adoro o que é cómico), apresentei-me no referido tribunal mas, desta vez, com o criminoso pela trela.
Na receção perguntaram-me (agente): -«o que faz aqui com o cão»; -é para um julgamento; - «não era preciso trazer o cão»; -não sabia; -«não pode entrar com ele»; -desculpe lá, sr agente, foi o «Tobby» quem fez chichi no passeio (malandrice, tinha sido por andar solto); -«mora longe?!»; -ainda moro (meia-verdade); -«de qualquer forma não pode entrar com ele».
Junto à imponente fachada em vidro do tribunal (no rés-de-chão) existiam grades soltas (como aquelas utilizadas em eventos), de onde o réu conseguia ver-me no interior da sala de audiências; -«prenda-o ali numa grade»; -sim, senhor.
A certa altura, quando me levantava para ouvir a sra Juíza, o perdigueiro, que não tirava os olhos do dono, pensando que já era para ir embora, de contente, manda tamanho esticão à grade, que foi parar ao meio da rua.
Perante estridentes gargalhadas, a sra Juíza ordenou que fosse lá fora acalmar o «fora da lei» ...pedi a uma simpática passante, que mo guardou até ao fim.
De volta à teia, encontrei a sala em alvoroço ...até a Juiza escondia o rosto com as mãos e, para complicar ainda mais as coisas, caí na asneira de dizer que, se calhar, o arguido não concordava com a sentença (402,61 francos).
A partir daí, as ensurdecedoras gargalhadas triplicaram, de tal forma que uma (obesa) árabe e uma loira sueca, descontroladas, foram convidadas a abandonar a sala.
Soube mais tarde, que a maioria de quem veio para julgamentos, já tinha achado muito estranho a forma como me tinha apresentado na receção ...Tobby pela trela.
Ironia do destino, num convívio natalício, encontrei a simpátiquíssima juíza que, depois de 2 dedos de conversa, regado com boa disposição, confidenciou-me: -« entendi a mensagem...engraçado».
Não iria tão longe como um aluno meu de Guitarra clássica, descendente de ilustre família de magistrados, que abandonou os estudos para se dedicar à criação de cabras, algures nas montanhas de França, especializando-se na fabricação de queijo caprino, por entender que a justiça é o maior podridão que afecta o nosso planeta.
Mais tarde convidei a simpática senhora (menina), que me tinha guardado o Tobby, durante a audiência, para um cuscuz (especialidade árabe), num airoso restaurante parisiense.
Em Portugal, as coisas teriam sido, penso eu, diferentes, e quem sabe, teria-me sido aplicado um castigo (multa).
Juro que não foi mais que um saltimbanco improvisado.
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